sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Câmara do Entroncamento opõe-se a ameaça de despedimento colectivo no grupo CP

O grupo CP tenciona reduzir no próximo ano 815 postos de trabalho, 468 dos quais na EMEF, 32 na Fernave, 60 na CP-Carga e 239 na CP. O executivo municipal do Entroncamento aprovou, por unanimidade, uma moção que se insurge contra a possibilidade de despedimento no grupo CP que, a confirmar-se, terá impacto directo para pessoas e famílias da cidade e da região.

O grupo CP tenciona reduzir no próximo ano 815 postos de trabalho, 468 dos quais na EMEF, 32 na Fernave, 60 na CP-Carga e 239 na CP. No caso da CP, a redução poderá ter um impacto ainda maior, já que é também objectivo da administração da empresa reduzir em 30 por cento o números de efectivos, que corresponde a 971 trabalhadores. A palavra ”despedimento” não faz parte do relatório do plano de actividades e António Mendonça, ministro das Obras Públicas, Transportes e Comunicações, disse já publicamente que em primeiro lugar vai ser negociada a rescisão por mútuo acordo e, se falhar, terão que ser utilizados ”outros mecanismos legais”. Para Carlos Matias, vereador do Bloco de Esquerda na Câmara do Entroncamento e proponente da moção (que foi assinada pelo restante executivo) esses mecanismos legais irão passar pelo despedimento colectivo. O ministro disse entretanto na segunda-feira, dia 19, à margem da cerimónia de inauguração do novo troço ferroviário Alcácer do Sal/Grândola, que entradas e saídas de trabalhadores nas empresas acontecem em todas as situações, seja nos momentos de expansão ou de recessão económica: ”São ajustamentos normais na vida das empresas”, defendeu. Para o ministro, o que está em causa é a sustentabilidade económica e financeira da empresa de transporte e manutenção de material ferroviário ”A nossa preocupação é criar as condições para que essa sustentabilidade se realize. Isso é que garante os postos de trabalho, não tenhamos ilusões”, disse.

A moção aprovada em uníssono pelos elementos das diferentes cores políticas que compõem o executivo municipal, manifesta preocupação com a incerteza e angústia de muitos ferroviários e solidariedade para com os trabalhadores na defesa pelos seus postos de trabalho.

Entretanto há mais medidas previstas neste combate pela estabilização financeira da CP. Será suspenso um comboio regional diário entre o Entroncamento e Coimbra e dois entre o Entroncamento e Castelo Branco. Também o preço das tarifas vai ser actualizado em 4,5 por cento e nos passes sociais os aumentos serão na ordem dos 3,5 por cento. Jaime Ramos, presidente da autarquia, criticou a prioridade que o Governo deu no investimento da electrificação da Linha da Beira Baixa e respectivo adiamento de outros investimentos, na sua óptica mais urgentes, para agora cortar nas ligações.

Carlos Matias (BE) defende que estão a ser efectuados ”cortes cegos”, reduzidos serviços públicos e que se está a ir ”ao bolso” das pessoas com o aumento dos preços dos bilhetes quando, no seu entender, se deveria estimular ainda mais o uso do comboio enquanto meio de transporte ecológico. ”Se um carro que vai para Lisboa levar duas pessoas já compensa em relação ao comboio”, atirou. Alexandre Zagalo, vereador do PS, diz-se perplexo com o aumento dos bilhetes e passes sociais, criticou o espectro do despedimento colectivo, afirmou que se está a acabar com o Estado Social e acusa os governantes de não conhecerem a realidade do país. Jaime Ramos (PSD), presidente da autarquia, foi cáustico e arrasou a competência dos deputados, ministros e secretários de Estado ”As pessoas encontram na política um trampolim para acabarem nas empresa públicas a auferir rendimentos cinco vezes superiores ao que têm. Não é de agora, é de sempre. Há uma grave crise de competência e isto tem sido cíclico”, protestou, em desacordo com as políticas e reformas que têm vindo a ser implementadas pelos socialistas.


in "Jornal Torrejano" 2010.12.24