quinta-feira, 24 de junho de 2010

Entrevista do Presidente da Câmara Municipal do Entroncamento, Jaime Ramos, acerca do desleixo da Refer em relação à Estação de Caminho de Ferro


A morte de três pessoas na estação de Riachos foi particularmente sentida pelo presidente da câmara do Entroncamento. Dois dias antes, Jaime Ramos tinha mostrado irritação pela suspensão de obras programadas para o troço entre Mato de Miranda e Entroncamento (ver texto nesta edição). E há muito que o autarca vem insistindo com a Refer para que seja feita a remodelação da estação da cidade que serve vários concelhos do Médio Tejo.

“As pessoas estão lá em Lisboa nos seus gabinetes e só se preocupam com TGV e mega-projectos. Não se preocupam com a vida de quem aqui anda. Se tiverem consciência não podem dormir descansadas. Isto é desleixo e incúria. O que se passou em Riachos é muito grave e os passageiros que utilizam a estação do Entroncamento também arriscam a vida diariamente. São doze linhas para atravessar e não há nenhuma segurança”, disse a O MIRANTE no próprio dia do acidente.

O presidente da Câmara garante que irá fazer tudo para alterar a situação. “Queremos que as pessoas possam ir trabalhar em sossego e possam regressar em segurança para junto das suas famílias. É inaceitável que os responsáveis só se mexam quando as populações protestam e aparecem os assuntos nos jornais e televisões. Espero que não morram mais pessoas. Se for necessário eu e toda a vereação pararemos a circulação ferroviária para mostrar a todo o país o que se passa. E não vai ser só por 5 horas”, avisa.

A remodelação da estação de caminho-de-ferro do Entroncamento estava incluída no conjunto de obras de remodelação da linha do Norte, apresentadas no tempo do primeiro Governo de António Guterres (1995-1999). O primeiro-ministro e o então ministro João Cravinho, chegaram a anunciá-la numa visita feita à cidade. “O Engº Guterres veio dizer que havia 600 milhões, não de euros, mas de contos, para a modernização da linha do Norte. Isto foi em 1995. Aqui no Entroncamento nada foi feito. E na altura não havia a desculpa da crise”, lembra o autarca.

Comentando a posição da porta-voz da Refer, que disse que a morte das três pessoas na estação de Riachos tinha sido provocada por desrespeito pela sinalização, Jaime Ramos indigna-se. “Na rodovia há semáforos, passadeiras, sinalização e mesmo assim há problemas e acidentes, o que fará num espaço destes aberto, com comboios a passarem a todo o momento?!! Por muita sinalização que exista basta um pequeno descuido para acontecer uma tragédia. É irresponsável querer passar a responsabilidade para as pessoas”.

O ano passado a Refer apresentou à vereação municipal um projecto de remodelação da estação mas depois disso nada mais aconteceu. “As notícias que tenho da Refer são preocupantes. Este ano, no dia do aniversário da empresa, que foi comemorado aqui no Entroncamento, estive com responsáveis da empresa e disseram-me que está tudo a andar devagar por causa da contenção de despesas. Mas ao mesmo tempo falaram-me de avançar com a Alta Velocidade. É daquelas coisas que me incomodam. Não sou contra investimentos mas o primeiro investimento a fazer é na segurança das pessoas. É por isso que me tenho batido sempre”.


in "O Mirante" 2010.06.17